O que as portas de João Cabral e o universo de Rousseau têm
em comum? A liberdade.
Rousseau, nos devaneios de suas caminhadas solitárias¹ declara:
(...) amo demais a mim mesmo para poder odiar quem quer que seja. Isso seria estreitar, comprimir minha existência, e eu gostaria antes de estendê-la sobre todo o universo.
João Cabral, na fábula de seu arquiteto², declama:
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
Portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.
Escolher comprimir-se pelo ódio é como construir portas de
fechar, que, embora possam abrir, sempre estão fechadas.
Escolher amar e querer bem é construir portas em portas,
nunca deixar-se comprimir.
Escolher o ódio é fugir de si, encolher-se: esconder-se.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto
Escolher o amor é entrar em si
mesmo. Achar-se e perder-se... Sempre
estender-se.
(...) aprendi, assim, por minha própria experiência, que a fonte da verdadeira felicidade está em nós e que não depende dos homens tornar miserável aquele que sabe querer ser feliz.
Mergulhe-se e liberte-se.
¹ Os devaneios do caminhante solitário de Jean-Jacques Rousseau
² Fábula de um arquiteto de João Cabral de Melo Neto
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