sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Portas e o Universo...

O que as portas de João Cabral e o universo de Rousseau têm em comum? A liberdade.

Rousseau, nos devaneios de suas caminhadas solitárias¹ declara:

(...) amo demais a mim mesmo para poder odiar quem quer que seja. Isso seria estreitar, comprimir minha existência, e eu gostaria antes de estendê-la sobre todo o universo.

João Cabral, na fábula de seu arquiteto², declama:

O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
Portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Escolher comprimir-se pelo ódio é como construir portas de fechar, que, embora possam abrir, sempre estão fechadas.

Escolher amar e querer bem é construir portas em portas, nunca deixar-se comprimir.

Escolher o ódio é fugir de si, encolher-se: esconder-se.

Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto

Escolher o amor é entrar em si mesmo.  Achar-se e perder-se... Sempre estender-se.

(...) aprendi, assim, por minha própria experiência, que  a  fonte da verdadeira felicidade está em nós e que não depende dos homens tornar miserável aquele que sabe querer ser feliz.


Mergulhe-se e liberte-se.



¹ Os devaneios do caminhante solitário de Jean-Jacques Rousseau
² Fábula de um arquiteto de João Cabral de Melo Neto

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