Puxe a cadeira, sente-se: vamos conversar.
Você é cristão? Então, estas palavras são para você. Nada de
escolher os escudos antes desta conversa. Nada de fincar os pés ao chão e
dizer: daqui não saio. É o chão que te segura? “Deixe o chão desmoronar”¹. Está
confortável demais? Espante-se.
Que tipo de cristão você é?
Provavelmente, você pensará: mas há mais de um tipo? Sim e há duas maneiras
de pensar nisto. Há diferentes tipos de cristãos, porque todos nós somos
diferentes. Embora possamos ser da mesma espécie e até mesmo compartilhar o
mesmo meio social, ainda assim, há detalhes que nos distinguem, os quais não
nos permitiriam servir da mesma forma. Porém, há outro lado. O lado das
distorções, das enganações e atrofiamento intelectual, bem como da intolerância
e do preconceito.
De qual lado você está?
Você pode ser cristão e gostar de
trabalhar com crianças ou idosos; você pode ser cristão e gostar da natureza,
de animais. Você pode gostar de administrar, gerir, negociar, investir. E, em todos esses casos, você pode fazer o
que Jesus fez ao vir ao mundo: servir sem orgulho, mas com humildade e amor.
Jesus serviu a causa dos que foram abandonados pelos religiosos da época.
E
você? Tem servido as quais causas? As suas próprias?
Há algum tempo, encontrei o
excelente texto do pastor e vereador Henrique Vieira, no qual declara:
A experiência da minha fé em Jesus me leva a ansiar por justiça, igualdade, liberdade e ter zelo pela humanidade e pela natureza. A partir da pulsão da minha fé, busco entender o meu mundo e compreendo que o capitalismo é um sistema econômico e cultural que se nutre da exploração, da opressão, da violência sistêmica e da relação predatória com os recursos naturais.²
Poderemos nos dizer cristãos, mas
ignorar as mazelas deste mundo, compactuando com intolerâncias diversas, se
Jesus recebeu uma cruz, no lugar de trono, exatamente por amparar com amor os
que foram rejeitados pela sociedade?
Posso me considerar cristã, caso não defenda o
direito das mulheres? Caso sugira que o estupro é por merecimento (ou eleja
quem diga)? Posso me considerar cristã se nego a violência, cruzando os braços,
e, meramente agradecendo por minha família chegar bem em casa? Posso me
considerar cristã se acredito na fome como simples fatalidade de um sistema
injusto? Posso me considerar cristã e escolher quem deve ter seus direitos
assegurados, segundo meus preconceitos? Posso me considerar cristã se acho
normal espancar meus filhos? Posso me considerar cristã se excluo e mato almas
com palavras que ferem e humilham?
“É assim, não há como mudar”.
Sim. Há o que fazer.
Paulo Freire, educador e filósofo
brasileiro, insiste que “onde há vida, há inacabamento”. Por isso, se você está
vivo, pode até estar “condicionado, mas não determinado”³.
Onde está, todavia, a resposta?
Em Jesus.
Porém, cuidado. Pode não ser o mesmo Jesus a quem se referem os
grandes pastores. E, provavelmente, não será a sua vida um mar de prosperidade
como esses pregam.
Mas isso importa? Afinal, “não importa o quanto você ganha; e sim o que você faz com o que recebe” 4.
Você recebeu o perdão e a misericórdia.
O que fará com eles?
O que fará com eles?
¹ Alento - Marcelo Jeneci
² Texto completo pode ser encontrado no link: https://henriquevieirapsol.wordpress.com/2014/09/09/voce-e-cristao-e-pastor-e-e-do-psol-sim/
³ FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 47ª ed. - Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013
4 Frase de Mary Hunt
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