quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Medo ou esperança? Os dois!

Quando eu era criança, tinha medo do escuro. Não enxergar me apavorava. Eu cresci e continuo a nutrir o mesmo medo. Todavia, o escuro que hoje me apavora é o do coração dos seres humanos. O que estremece meu corpo e alma é a sua falta de visão.

Eu tenho medo do caminho que, como sociedade, estamos trilhando: naturalizamos o preconceito em nossa fala e em nossas atitudes; ignoramos a dor histórica de diferentes grupos; menosprezamos a luta de outros; elegemos a intolerância; saudamos a má fé; enxergamos nossas crianças como futuro e, por puro descuido, perdemos seu presente; sonhamos com a paz individual e compactuamos com a guerra, caso essa seja necessária para afastar de nós a miséria alheia.

Eu tenho medo. Contudo, tenho esperança.

Eu tenha esperança porque brinquei de boneca com alguém que, ainda hoje, sonha em construir um mundo melhor¹. Eu tenho esperança, porque conversei com alguém que disse: eu chorei quando uma candidatura ameaçou o direito das crianças pobres. Eu tenho esperança, porque vejo o brilho nos olhos de pessoas que lutam por uma educação pública e de qualidade. Eu tenho esperança, porque um desconhecido pagou o medicamento caríssimo de uma criança com câncer².  Eu tenho esperança, porque há pessoas que buscam uma plena democracia e, por isso, levantam bandeiras de respeito, cidadania e inclusão.

Eu tenho esperança, porque tenho medo.

O medo me deixa alerta.

A esperança faz-me lutar.

Assim, cá estou eu, tentando, todos os dias, espantar os que me rodeiam. Para espantá-los, posiciono-me em relação à política partidária e entrego-me as causas sociais; insisto em discutir sobre o direito à humanização em todas as esferas da sociedade e estudo para não reproduzir uma educação bancária³, que apenas ensina a submissão; questiono os movimentos religiosos que prosperam sobre a miséria de muitos; vivo o amor como uma ação, a qual, como define Elisabeth Elliot, nunca constrange, apenas atrai.
Um dia ditaram os sonhos que eu poderia ter, porque sabiam que eu tinha medo.
Esqueceram, no entanto, que o mesmo nó que à vida dilacera, é o que regenera a minha esperança4.

Mantenho a fé.

¹ Ela fala de suas esperanças lá seu pomar: http://saboresdepomar.blogspot.com.br/;
² Pessoas incríveis têm se mobilizado e cooperado com o tratamento de crianças com leucemia, você pode saber muito mais nas páginas do Facebook da Fundação Pró-Hemorio e Amigos do Hemorio;
³ Termo que o educador e filósofo, Paulo Freire, usa para definir uma educação conteudista, que de nada serve para a vida do educando.

4 Em referência à música “Impasse”  do grupo 5 a seco

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