Esse título enorme é,
também, o nome do livro de Rubem Alves sobre a Escola Ponte: a escola em que a
infância nunca para de brincar. Mas escola e brincadeira combinam? Pensando de
maneira geral nas escolas brasileiras, a resposta é não.
O nosso sistema educacional,
apesar da LDB (lei de diretrizes
e bases da educação nacional) garantir uma educação para cidadania,
estacionou em projetos conteudistas, visando uma assumida linha de produção:
entram crianças, saem suportes de saberes inúteis. A escola, como diz
Rubem Alves, não responde às questões das crianças: brincar é uma dessas
questões.
Brincar é se descobrir dentro do mundo, reproduzi-lo, mas também criá-lo. Brincar é conviver e é só
convivendo que aprendemos, desde cedo, a arte da diplomacia. Deixar brincar, dentro
e fora da escola, é tornar possível um desenvolvimento pleno da infância, uma
etapa viva nela mesma e não por projetos futurísticos. Sobre
isso, Pedro Barbas declara:
“As crianças não tem presente. Têm apenas futuro. Na escola, toda gente se preocupa com os anos que virão a seguir. Os alunos estão sempre sendo preparados para o futuro. E no futuro sempre acaba havendo queixas sobre o que foi o passado. (...) Perante a impossibilidade de preparar para o futuro, por que não damos uma chance às crianças de viverem apenas e somente o presente?”
O presente da criança é a sua infância.
A escola com que sempre
sonhei é aquela em que a infância sorri para cada criança, como na Ponte, em que se pode brincar ou escutar música: aprender. Aprender
pela experiência, a qual não é delimitada pelo currículo. Aprender pela
curiosidade, a qual não se detém ao pontilhado de letras e números. Uma escola
em que professores sabem que não sabem tudo e, por isso, também aprendem¹.
Na escola que sempre
sonhei tudo pode ser sonhado: não apenas uma profissão. Tudo pode ser vivido e
compartilhado. A cidadania não reside no futuro, move o presente. A escola com
que sonho está nos parques, nas ruas, nas estrelas, nos recreios, na chuva, nos
quintais, nas janelas e portas de abrir, nunca portas e janelas de fechar².
A escola com que sempre sonhei e que existe, embora ainda distante, é o próprio universo e não uma miniatura dele.
A escola que sempre
sonhei é aquela que responde às perguntas das crianças. Por isso, ela só pode
nascer dos desejos dos pequenos. Aí você indaga: qual é, afinal, o desejo das crianças?
Eu respondo: a vida. Contudo, nossas escolas esqueceram de preencher seus currículos com vida.
Desejando viver, as crianças
brincam. Por isso, deixem que as crianças vivam brincando na escola ou fora dela. Não lhes roubem a
infância. Desta maneira, eu terei a escola com que sempre sonhei existindo em cada olhar infantil de curiosidade; ainda que não exista, infelizmente, em cada um de nós.
¹ Baseado em Paulo
Freire, o qual declara: ninguém sabe tudo, ninguém tudo ignora.
² Em referência à Fábula de um arquiteto de João Cabral de Melo Neto, aqui já
citada e