Hoje, encerramos mais um ano. Contudo, quem é que encerra o tempo?
Quando crianças, o tempo não faz total sentido para nós. Ontem, hoje e amanhã misturam-se e dançam juntos, como se fossem um. Os dias passam, contudo, todos são; até que nos ensinam a dividi-los e hierarquizá-los em úteis e inúteis, produtivos ou não. Até que nos mostram como é possível mergulhar em nossas próprias sombras¹, dividindo o indivisível.
O tempo capitalista pode ser retalhado: horas de estudos, tempo de trabalho, períodos de formação. O tempo de vida não, porque este não é feito de segundos ou séculos, mas de memórias que nos permitem ser o "todo de uma vida só"¹, sem que a gente precise morrer um pouco a cada contagem, a cada virada.
"A vida é indivisível", já dizia o poeta², "Mesmo/ A que se julga mais dispersa". E ela "pertence a um eterno diálogo/A mais inconsequente conversa".
Nessa mania de dividir, perdemos os bocadinhos de prosa que fazem da vida poesia. Perdemos o beijo bem dado, a mão entrelaçada, a partilha; esquecemos de como é abrir a boca para gargalhar e do que é contar... Felicidades e histórias, dinheiro não. Nós esquecemos e, assim, vamos perdendo para os dias, meses e anos, aquilo que nos torna humanos; nós esquecemos e devagarinho, acompanhando o ponteiro do relógio, mergulhamos e afundamos nas sombras de nós mesmos.
Mas veja bem, meu caro, "Todos os poemas são um mesmo poema/Todos os porres são o mesmo porre". Por isso, se eu fosse você, "eu nem olhava o relógio, seguia sempre em frente.../ e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas"². Se eu fosse você, começaria a medir a vida "pelo encantamento que a coisa produza"³ e não pelo tempo no qual pode comprimi-la.
Mas veja bem... Veja bem, eu não sou você. Portanto, contento-me em desexplicar: busque-se na vida e emerja de suas próprias sombras.
Feliz vida.
¹ Referências do livro "A varanda do frangipani" de Mia Couto
² Referências ao poeta Mario Quintana
³ Referências ao poeta Manoel de Barros
Nessa mania de dividir, perdemos os bocadinhos de prosa que fazem da vida poesia. Perdemos o beijo bem dado, a mão entrelaçada, a partilha; esquecemos de como é abrir a boca para gargalhar e do que é contar... Felicidades e histórias, dinheiro não. Nós esquecemos e, assim, vamos perdendo para os dias, meses e anos, aquilo que nos torna humanos; nós esquecemos e devagarinho, acompanhando o ponteiro do relógio, mergulhamos e afundamos nas sombras de nós mesmos.
Mas veja bem, meu caro, "Todos os poemas são um mesmo poema/Todos os porres são o mesmo porre". Por isso, se eu fosse você, "eu nem olhava o relógio, seguia sempre em frente.../ e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas"². Se eu fosse você, começaria a medir a vida "pelo encantamento que a coisa produza"³ e não pelo tempo no qual pode comprimi-la.
Mas veja bem... Veja bem, eu não sou você. Portanto, contento-me em desexplicar: busque-se na vida e emerja de suas próprias sombras.
Feliz vida.
¹ Referências do livro "A varanda do frangipani" de Mia Couto
² Referências ao poeta Mario Quintana
³ Referências ao poeta Manoel de Barros
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