Apesar do dia
excessivamente quente e do risco que corria de ser chamada de “poser”, por não ter
assistido aos filmes anteriores ou lido os livros sobre o universo, fui ver Star Wars no cinema. Confesso que fui mais como
companhia de um irmão fã que pela curiosidade de uma leiga, sorte a minha ter
aceito o convite: foram cerca de duas horas e meia de filme e diversas
reflexões.
Eu sabia o
básico sobre a série: personagens principais, seus respectivos lados na força,
algumas de suas características e importância no filme. Sabia, também, que o
filme teria referências aos anteriores, mas que não seria essencialmente uma
continuação. Sabia que novos personagens apareceriam. O básico para não cutucar
o fã ao lado. Só não sabia que uma personagem seria marcante ao ponto de me
fazer sentar e escrever sobre ela. Ou, na verdade, sobre como ela se parece com
tantas outras mulheres.
Rey era órfã e
vivia no seu planeta como uma catadora de lixo. Como diz minha mãe, vendia o
almoço para pagar a janta. Teve que aprender a se virar sozinha: conseguir a
própria comida, defender-se, curar-se e cuidar-se. Aí, talvez,
pensando em como os filmes normalmente representam as mulheres, você pergunte:
isso tudo sem homem? Não, teve homem
sim. Mas ela não precisava que ele
segurasse sua mão ou que a salvasse.
Por que,
exatamente, eu gostei da Rey? Ela poderia ser eu ou você: uma mulher comum.
Ora, quantas vezes mesmo você teve um homem para segurar sua mão enquanto
andava rápido, com medo de um cara que a assediava? Ou quantas vezes um homem - alto, moreno e
charmoso - apareceu no meio da noite, enquanto você andava apressada, para
segurar sua mão e levá-la em segurança
até sua casa? Provavelmente nunca. Pois é. A gente encara a vida mais sem os
homens que com eles, principalmente, quando encaramos o machismo de muitos;
nesses casos, temos apenas umas as outras. E olhe lá.
Repito, Rey foge
totalmente do estereótipo cinematográfico feminino, da mocinha em apuros
(padrão que, aliás, a Disney ajudou a disseminar e fez esse trabalho muito bem
feito). No caso de Rey, ela é só uma garota vivendo a própria vida com coragem
e arriscando-a quando necessário.
E, afinal, não é isso que a gente faz o tempo
todo?
Rey e sua força fizeram-me pensar: refletir
sobre a força que não apenas tiraram de nós, mulheres, nos cinemas, mas na
vida. Obrigaram-nos a lutar (porque em um mundo machista, não resta outra coisa a não ser a luta) e ainda nos chamam de fracas e, por vezes, incapazes. Diminuem
nossas batalhas e vitórias. Acham que podem nos submeter ao lugar que quiserem, esquecendo-se
que o nosso lugar e papel – tímido ou exuberante, cobrindo-se ou expondo-se,
sendo isso ou aquilo – são todos os que quisermos e escolhermos.
Preste atenção,
a nossa questão não é dizer que os homens não prestam, de forma generalizante, e
que devem ser exterminados. Porém, dizer
que nos viramos sozinhas o tempo todo, então, vocês podem se libertar dessas
poses de valentões: não precisamos que nos salvem. Queremos que nos respeitem e
entendam que nossas escolhas independem de suas vontades: não precisamos que
falem por nós; então, parem de sufocar nossas palavras.
A minha questão,
neste texto, é respirar aliviada porque um padrão, ao menos em um filme de grande circulação, foi quebrado. É ficar contente de não passar duas horas
sentada, tendo que engolir um tipo de protagonista que não tem nada a ver com
que a maior parte das mulheres é (ou todas, se pensarmos que muitas de nós
apenas assumem um papel que lhes foi ensinado ou imposto, sem reais escolhas).
Minha questão é comemorar.
CO-ME-MO-RAR
mesmo: ufa, um passo a mais. Está valendo a caminhada.
Triste mesmo foi
só ouvir comentários (inclusive de mulheres) de como a personagem era
“feminazi”.
Respirei fundo:
um paradigma por vez.
Vamos lá.
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